Panorama das Artes Visuais - Mapeamento e Reflexões resultantes da 2ª Convocatória MAP

20 Jun 2023


Lurdi Blauth

Artista visual, pesquisadora e professora, atuou por mais de 45 anos em cursos da área das artes visuais, na Universidade Feevale (Novo Hamburgo – RS). Doutora em Artes Visuais, PPGAV, UFRGS/RS; Doutorado/sanduíche, na Université Pantheon-Sorbonne – Paris I, França; associada à ANPAP – Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas; Membro do Conseil Nationa Français des Arts Plastiques – CNFAP.

 

 

RELATÓRIO/MAPEAMENTO DOS DADOS DA CURADORIA

Introdução

O presente texto visa apresentar um mapeamento geral a partir dos dados solicitados pela II Convocatória MAP para a área das Artes Visuais. A convocatória foi destinada para artistas residentes da região do Vale dos Sinos, adicionando as cidades de Campo Bom, Dois Irmãos, Estância Velha, Ivoti, Morro Reuter, inclusive para novos artistas de Novo Hamburgo. A proposição do projeto consiste ampliar o movimento de difusão cultural das Artes Visuais através de ações do Mesa de Arte na Praça (MAP), cujas atividades compreendem a realização do Mesa de Arte na Praça, Arte no Muro, Arte na Rede, Arte na Caixa.

O projeto contemplado pelo Edital SEDAC nº 13/2021 - Edital de Concurso FAC Visual, possibilitou a realização do chamamento público voltado as Artistas Visuais, Espaços de Ensino das Artes Visuais e Espaços Expositivos. Neste sentido, a pesquisa buscou visualizar as potencialidades da área das Artes Visuais, verificando quais ações são promovidas pelas instituições públicas, privadas, escolas, artistas residentes, entre outras atividades que oportunizam o contato com as artes visuais em suas diferentes manifestações e linguagens artísticas e de que maneira acontece a difusão da Arte na cidade.

Para o mapeamento do panorama das Artes Visuais, a pesquisa foi direcionada para artistas visuais e para as secretarias de cultura, secretarias de educação. Foram disponibilizados na Plataforma Digital do MAP, dois formulários: 1. cadastro para os artistas contendo algumas informações básicas; 2. Cadastro com informações de instituições públicas e privadas, das referidas cidades.

A partir do preenchimento dos formulários, uma comissão curatorial analisou os dados fornecidos pelos artistas e, em alguns casos, foram solicitadas completar as informações, propiciando a sua inclusão na plataforma digital do MAP. Salientamos que, de uma maneira geral, as ações e intenções do Mesa de Arte na Praça dão continuidade as proposições democráticas iniciais de suas idealizadoras, de agregar um maior número de artistas aos projetos, desde os iniciantes, autodidatas e com formação acadêmica, oportunizando a visualização e o compartilhamento de suas produções artísticas.


Artistas: análise dos novos cadastros

A pesquisa sobre os dados informados pelos artistas oportunizou o levantamento das potencialidades artísticas presentes nas localidades mencionadas acima, apresentando as linguagens e expressões desenvolvidas, faixa etária, etnia, gênero, proposições do artista. Em um primeiro  momento, para uma melhor visualização, apresentamos gráficos a partir dos cadastros recebidos dos artistas. Em um segundo momento, faremos o cruzamento dos dados a partir das informações cadastradas pelas instituições públicas e privadas, vinculadas com as cidades: Novo Hamburgo, Campo Bom, Dois Irmãos, Estância Velha, Ivoti e Morro Reuter.

No gráfico abaixo podemos observar a porcentagem de artistas que se cadastraram e suas respectivas cidades. Notamos que, um baixo número de artistas inscritos, e o que chama a atenção é a ausência de artistas da cidade de Dois Irmãos. Embora não estejam elencadas nesta convocatória,  cidades como Porto Alegre, Sapiranga e de São Leopoldo, alguns artistas se inscreveram na plataforma do MAP. Contudo, a cidade de Novo Hamburgo lidera com a maior porcentagem de artistas novos que se cadastraram pela plataforma do MAP

 

CIDADES


 




FAIXA ETÁRIA

No gráfico da faixa etária, observamos que a porcentagem maior está entre 40 e 60 anos; outro dado a ser observado quando comparamos as idades entre 20, 30 e 40 anos.







 

ETNIA:

Neste gráfico, observamos a participação da minoria de negros, pardos e não declarados foram cadastrados na cidade de Novo Hamburgo, em oposição, a uma maioria branca, oriundos de todas as cidades presentes na pesquisa.



 



GÊNERO:

Este gráfico sinaliza a presença, nas Artes Visuais, um número significativo de mulheres, uma porcentagem próxima de homens e um número mínimo que não declaram.


 

 




TÉCNICAS/ LINGUAGENS ARTÍSTICAS

No gráfico abaixo, percebemos uma variedade significativa de linguagens artísticas desenvolvidas pelos diferentes artistas cadastrados, desde as mais tradicionais como a pintura, escultura, desenho, entre outras, os meios digitais e a fotografia. Segue a primazia da pintura com uma boa porcentagem, somando-se a aquarela, o desenho, escultura, gravura, ainda são os meios bidimensionais que prevalecem seguidos dos procedimentos tridimensionais como a escultura,  a cerâmica, mosaico e o têxtil, incluindo as instalações. A arte digital e a fotografia chegam a 20% da totalidade informada.


 



FORMAÇÃO:

No gráfico a seguir, observamos que o maior número de artistas inscritos tem formação acadêmica na área das Artes Visuais – bacharelado e licenciatura, sendo a maioria na Universidade Feevale que possui um curso de Artes Visuais, desde 1969, o que denota a sua característica regional e comunitária, contribuindo na formação nesta área de conhecimento, de artistas, arte/educadores residentes nas regiões do seu entorno.

 



OBSERVAÇÕES  GERAIS

As informações gerais dos dados preenchidos pelos artistas que se cadastraram na Plataforma do MAP, também solicitamos imagens (fotos) dos trabalhos, bem como um resumo sobre a sua atuação na área das Artes Visuais e uma breve abordagem sobre o seu percurso e intenções imagéticas/conceituais de suas produções artísticas.

Inicialmente, cabe observar que a dificuldade da maioria dos artistas foi de enviar imagens com boa resolução, enquadramento, coerência entre as produções visuais apresentadas. Para tanto, integrantes da comissão de curadoria fizeram contatos diretos para poder adequar as imagens no site da plataforma.

As questões relacionadas sobre a sua atuação no campo das Artes Visuais, de maneira geral, são abordadas de maneira coerente com o envolvimento com a arte, pelos meios técnicos escolhidos e a sua participação em exposições, em alguns projetos comunitários. Além disso, com a possibilidade de participar do MAP, acreditam também em uma maior visibilidade das suas produções.

Percebemos que, embora sejam breves reflexões, sobre a paixão pela arte revelam, em muitos casos, a sua presença desde a infância, cujas vivências e experiências pessoais influenciaram para ampliar o conhecimento em diversas técnicas e investigações artísticas mais autorais. Neste aspecto, o processo de criativo é um fator importante, uma vez que, os percursos são diversos em relação às necessidades individuais e meios de expressão, cujos sentimentos, ora são mais intuitivos e lúdicos, ora apresentam preocupações técnicas, formais, utilitárias e decorativas.

Contudo, verificamos outras abordagens que elencam conteúdos estéticos, buscando aprofundar processos criativos relacionados a aspectos reais e imaginários. São proposições temáticas que, simbolicamente, dão vazão a narrativas relacionadas ao corpo, gênero, elementos da natureza e meio ambiente que ressignificam questões culturais e sociais.

Nesta pesquisa, nos deparamos com uma diversidade de meios técnicos investigados pelos artistas, desde o entendimento do material, da matéria e da materialidade e suas possibilidades de desdobramento para a construção de uma linguagem artística pessoal.  Poucos artistas utilizam apenas uma técnica, no entanto a maioria explora diversas técnicas em um mesmo trabalho.

São questões presentes na arte contemporânea, como os cruzamentos de linguagens híbridas pela inclusão de materiais não convencionais, outros suportes, instalações no espaço expositivo que instigam a participação do público. 



Espaços expositivos das cidades elencadas na pesquisa.


Esta pesquisa oportunizou o mapeamento sobre presença de espaços expositivos e/ou atividades relacionadas à área das Artes Visuais nos municípios de Novo Hamburgo, Campo Bom, Dois Irmãos, Estância Velha, Ivoti e Morro Reuter com o intuito de apresentar o potencial artístico e cultural destas regiões através de publicações e inclusão na plataforma digital do MAP.

Para tanto, disponibilizamos um formulário para as Secretarias de Cultura de cada cidade na plataforma do MAP com questões:

Na área de Ensino das Artes Visuais: Escolas: a arte e/ou arte educação ocorre em quais níveis do ensino escolar? No Ensino Fundamental: todas responderam que ocorrem aulas de arte/educação, com professores da área; no Ensino Médio, ocorrem em 4, e 2 não ocorrem. Existe um espaço específico dentro das escolas para as atividades de artes? Somente um município respondeu que sim e os outros 5 afirmaram que não;

Dentro das escolas, constatamos que não existem espaços constituídos para exposições, ficando restrito aos eventos, praças e Espaço Cultura, embora sejam promovidas exposições dos alunos, os trabalhos são expostos nos corredores, sala de aula ou no saguão da escola. Em algumas exposições do Centro de Cultura, o material das escolas também é incluído, tendo estruturas para exposições em determinados eventos.

Além disso, algumas escolas convidam artistas para falaram sobre os seus processos criativos de produção artística, assim como nem todas oferecem atividades além da sala de aula na área das Artes Visuais. Um dos municípios possui uma escola de arte que atende os estudantes no contra turno escolar, e também a comunidade em geral.

Por outro lado, o entendimento relacionado às Artes Visuais é abordado de forma um tanto complexa, uma vez que os respondentes sinalizam outras atividades. Por exemplo, os alunos têm acesso a múltiplos espaços da cidade como um Núcleo histórico que possibilita a imersão na Cultura do Município em que vivem.  Outros colocam que possuem um Espaço Cultural onde são ministradas oficinas das mais diversas artes para a comunidade e público escolar, porém não são informadas quais oficinas que compreendem a diversidade das artes.

Ensino Superior – neste nível, apenas uma das cidades possui curso de Artes Visuais, nas modalidades presenciais e EAD. O acesso ao curso superior em Arte ocorre apenas na cidade vizinha, que é Novo Hamburgo,RS.

Interessante observar que houveram retornos muito subjetivos sobre a área de Artes visuais, uma vez que indicam a existência de profissionais na cidade, a promoção de eventos com a realização de palestras sobre o assunto, porém as informações se restringem a existência de uma associação de artesões.

Quanto a promoção de visitas a exposições de arte, todos responderam que sim, as quais são realizadas de forma coletiva, com frequência de em torno de 3 vezes ao ano, outros mensais.

Na consulta sobre cursos livres na área das Artes Visuais, observamos que em alguns municípios não existem ou não sabem se existem. Aqui notamos que, os cursos livres podem ser encontrados a nível municipal e cursos em ateliês privados ministrados pelos próprios artistas. Constatamos que, embora a resposta tenha sido afirmativa, o respondente diz que são diversos, mas não especifica nenhum. Ainda houve o retorno de que há um número crescente de artistas atuantes na cidade, afirmando que tem sido ofertadas oficinas, mas não informa quais seriam as áreas abordadas.

Na questão sobre o público que frequenta estes cursos observamos que um dos municípios possui um organograma em seus espaços de ensino promovidos pela Secretaria Municipal de Educação e Cultura e a Escola de Arte-Educação, para atender crianças a partir dos 5 anos; em turno oposto da escola regular, possui uma Escola de Artes, na qual participam crianças a partir de 6 anos de idade, adolescentes e adultos.

Em outro município são oferecidos cursos para estudantes a partir dos 5 anos até a adolescência; e também por outros setores, contemplando mulheres da comunidade periférica, na faixa dos 40 a 60 anos. Ainda: todos munícipes, com faixa etária entre 9 a 60 anos, mulheres, homens e crianças. Contudo, não são especificados quais cursos são ofertados e de que forma abrangem a área das artes visuais.

Sobre os cursos promovidos nos ateliês dos artistas, alguns têm conhecimento e outros afirmam que não tem conhecimento sobre o assunto, assim como não possuem ateliês de artistas. Em relação se os ateliês são abertos ao público, 3 respondem que sim.

Por outro lado, quando questionados sobre galerias de arte, percebemos que houve certa dificuldade pelos respondentes sobre a diferença entre uma Galeria de Arte privada e Espaços expositivos que podem ser privados ou públicos, no sentido de estarem ligados a secretarias culturais dos municípios. Ainda, o termo galeria, apresenta dúvidas, sendo entendido como galeria de espaços comerciais.

Neste sentido, existem espaços que promovem exposições na cidade de Novo Hamburgo que possui curso superior privado em Artes Visuais e uma Escola de Arte, a nível municipal. Neste município ocorrem várias exposições tanto de artistas locais, como de outras cidades, apresentando diversas linguagens artísticas, instalações, obras em pintura, desenho, gravura, escultura, fotografia e processos híbridos.

Porém, em outros municípios são citadas as técnicas de desenho e pintura em tela, incluindo experimentos em Artes e artesanato. Aqui notamos que de fato não há um entendimento claro, por parte dos respondentes sobre as diferenças entre arte e artesanato, o que é configurado pela resposta sobre Artes Visuais e técnicas diversas, sem especificar.

Em relação aos espaços públicos existentes na cidade, tem algumas que não possuem e reconhecem a necessidade de mudar essa realidade. Outros possuem espaços específicos, com estrutura expositiva, e também indicam a disponibilidade dos centros de cultura da cidade.

Em geral, a promoção das exposições está atrelada ao setor da Secretaria Municipal de Cultura, Secretaria de Educação através de agendamento direto com o artista, edital público ou mesmo por convite de um artista, que pode ser local ou de outras cidades.

Quanto à estrutura destes espaços, os seus usos são gratuitos, oferecendo expositores e o apoio nas montagens, porém o transporte fica por conta dos artistas e, nem todos produzem folders impressos. O apoio financeiro, em geral não tem, ou é irrisório. Já existem editais na área com apoio financeiro, porém ainda são raros.

A frequência de continuidade de promoção de exposições, segundo os respondentes, é baixa para alguns, e nas cidades em que tem mais locais expositivos, sejam privados ou públicos, a continuidade é mensal.

A existência de locais com potencial para a criação de Salas e de espaços expositivos adequados, alguns municípios informam que estão com dificuldade de encontrar um espaço, porém sinalizam a possibilidade de encontrar soluções. Entretanto, há a indicação da praça da cidade como local expositivo, porém o que ocorrem são as feiras de artesanato, o que denota a ausência das Artes Visuais. Embora seja possível realizar intervenções urbanas com proposições específicas, percebemos o desconhecimento da área das Artes Visuais.

Ao serem mencionadas atividades na área das Artes Visuais que ocorrem na cidade obtivemos as seguintes informações: acontecem exposições em eventos do município e também em ações pontuais dos próprios artistas; Feira dos Artesões que fica localizada na praça central da cidade; Projeto arte na Praça; exposições de arte em Centros de Cultura; a roda de conversa sobre arte com artistas locais; equipamentos Culturais para exposições itinerantes, e um município menciona apenas o Grafite com ação na cidade. Contudo, obtemos a informação de uma município que periodicamente o Departamento de Cultura promove um evento em praça pública com espaços gratuitos para os artistas locais exporem e comercializarem sua arte.

Ainda questionamos sobre como a cidade poderia ampliar o contato com as artes visuais, obtivemos algumas sugestões interessantes e animadoras nessa tentativa de aproximar as artes visuais da população, promovendo diversos eventos, exposições, projetos, bate-papos e oficinas abertas ao público em geral. Sugestões de oferecer cursos, mais exposições, dar voz às necessidades desta área, oportunizar momentos que estimulem também os artistas locais, promovendo o acesso à Arte, envolvendo a comunidade. Para tanto é necessário fomentar os setores culturais com participações dos diferentes segmentos que compõem a diversidade da área da cultural.

CONSIDERAÇÕES

Esta pesquisa inicial sobre a presença das Artes Visuais nas cidades elencadas pelo projeto nos possibilitou realizar um breve mapeamento sobre os artistas que se cadastraram no MAP, assim como perceber a articulação das Secretarias de Cultura em relação a promoção de ações que oportunizem o acesso à Arte em sua região.

A partir dos dados fornecidos de um lado pelos artistas e, de outro, pelos órgãos públicos dos municípios nos oportunizou refletir sobre a importância de ampliar as ações do MAP nos municípios do entorno de Novo Hamburgo.

Em relação aos artistas que se cadastraram nessa 2ª convocatória do MAP, detectamos a utilização de distintos meios e linguagens, bem como o entendimento diverso das múltiplas camadas que envolvem as artes visuais. Nesse sentido, percebemos que as fronteiras entre arte e artesanato são muito tênues e subjetivas tanto para alguns dos artistas quanto para os dirigentes das secretarias de cultura e educação.

Os artistas ao serem solicitados para comentarem sobre a sua produção estética, as escolhas temáticas e reflexões pessoais, encontramos narrativas que enfocam apenas na técnica, no fazer prazeroso que expressam sentimentos,  porém ainda com pouco aprofundamento conceitual e proposições contemporâneas. Embora com variações formais, apresentam um fazer aplicado, bonito e agradável de um fazer aproximado ao artesanato.

Ainda cabe comentar sobre a presença e a importância de fazeres manuais presentes nessas regiões, uma vez que existe uma forte influência das tradições, principalmente da cultura alemã. Estas são mantidas e promovidas pela cultura local, inclusive pelos órgãos públicos.  Salientamos que, sem dúvida, é importante promover manifestações culturais materiais e imateriais autênticas que marcam a identidade de comunidades locais, trocas de experiências e histórias de vida e, além disso, fomenta a economia através de um amplo contingente turístico.  Entendemos, por outro lado, que a diversidade de movimentos sociais que englobam distintas culturas está crescendo em nossas cidades, os quais merecem a atenção dos poderes públicos para que tenham voz e ocupem seu espaço na sociedade. Contudo, as políticas culturais também deveriam levar em conta as transformações de uma cultura mais ampla, que vai além dos costumes folclóricos, da produção de artesanato. Ou seja, é fundamental considerar a produção estética de seus artistas visuais que, igualmente, buscam realizar projetos com obras significativas contemporâneas, merecendo ter seus espaços e serem reconhecidos socialmente.

Ao pensarmos sobre o termo cultura, percebemos que é um tema complexo, e cada região tem suas origens que sinalizam a identidade cultural dos habitantes, com seus valores, significados, modos de vida, cujos códigos simbólicos não podem ser desconsiderados. Porém, esses códigos internalizados estão se transformando constantemente, sofrem influências pelos compartilhamentos das inúmeras modalidades de transmissão de cultura, acenando diariamente para o consumo de novos produtos e “bens” culturais. São aspectos que podem ser considerados

moventes das relações instauradas pela globalização através da promoção e circulação incessante de produtos e das tecnologias de informação, percebemos que essas mudanças provocam a incorporação de novas formas de organização e estruturação socioculturais. (BLAUTH, GIRARDI, 2013, p. )

Os redimensionamentos das estruturas culturais de uma sociedade implicam em repensar sobre esse processo complexo que envolve os bens culturais de um determinado local.  Ao pensarmos sobre as formas de vida das sociedades tradicionais, na qual os símbolos eram valorizados pela experiência das gerações, inserindo qualquer atividade que davam continuidade às estruturas de “práticas sociais recorrentes”. (Antony Giddens, apud: Stuart Hall, 2006, p, 14-15).  Em oposição, entendemos que, as condições múltiplas da sociedade moderna que “não é definida apenas como a experiência de convivência com a mudança rápida, abrangente e contínua, mas é uma forma altamente reflexiva de vida. (HALL, 2006, p. 15).

O compartilhamento dos distintos bens culturais de uma sociedade localizada em uma região com diferentes processos e linguagens  são de uma riqueza enorme que não deveriam ser reduzidos somente a promoção de determinados bens simbólicos. Nessa perspectiva, “as sociedades são constantemente examinadas e reformadas à luz das informações recebidas sobre aquelas próprias práticas, alterando, assim, constitutivamente, seu caráter”. (GIDDENS, apud:HALL, 2006. p.15).

E, no que tange as Artes Visuais, que é o enfoque desta pesquisa, reconhecemos que ainda é campo complexo e ambíguo que se manifesta através da produção de objetos palpáveis ou não, no caso de performances, mas que, de modo geral são “manifestações concretas que ocupam um lugar dentro da realidade”. (JIMENEZ, 1999, p.10). A arte envolve uma prática, uma certa manualidade e artesania, utiliza materiais, instrumentos que fazem parte do nosso dia, porém diferenciando-se, sobretudo do artesanato, cujos significados são reduzidos a produção de objetos que ornamentam a nossa vida. Contudo, de acordo com Marc Jimenez, a arte

significa também uma maneira de representar o mundo de figurar um universo simbólico, ligado à nossa sensibilidade, à nossa intuição, ao nosso imaginário, aos nossos fantasmas; este é o seu lado abstrato. A arte ancora-se na realidade sem ser plenamente real, desfraldando um mundo ilusório no qual, frequentemente – mas não sempre – julgamos que seria melhor viver do que viver na vida cotidiana. (1999, p.10).

Diante destas questões que abrangem o campo da arte, não temos a intenção de conceituar arte, mas estarmos abertos a debates que contribuam para ampliar a compreensão do fenômeno artístico contemporâneo, com suas dúvidas, contradições e reflexões que buscam aproximar a arte da vida, ou a vida da arte. As manifestações artísticas envolvem o universo da sensibilidade, das intuições, das emoções, do imaginário e suas múltiplas interpretações. (JIMENEZ, 1999)

Anotamos um questionamento de Marc Jimenez (1999, p. ): “como compreender, por exemplo, que a sociedade moderna, colocada sob o signo da civilização da imagem, conceda tão pouco espaço ao ensino das artes plásticas?” Nessa perspectiva, é de fundamental importância que, as políticas públicas oportunizem espaços para que os habitantes possam entrar em contato com as distintas manifestações artísticas atuais, fomentando a criação de espaços públicos onde os artistas poderiam mostrar as suas produções estéticas, suas reflexões e um outro olhar sobre a vida. O artista, em suas propostas nos abre a possibilidade de vivermos uma experiência de rompermos com o andar corriqueiro cotidiano para que possamos perceber o mundo de maneira mais humana e sensível.

Portanto, os setores de uma secretaria de cultura e de educação são de fundamental importância nas localidades, uma vez que, a cultura de suas regiões depende de suas formas de atuação, reconhecendo a diversidade e a amplitude que envolve a área da cultura. São necessárias ações objetivas que de fato propiciem o contato com as Artes Visuais, oportunizando que seus habitantes possam reconhecer e dar voz aos seus artistas, em suas aproximações e diferenças culturais.


REFERÊNCIAS

BLAUTH, Lurdi; JOAQUIM, Gisele V. Identidade cultural e globalização em produções artísticas contemporâneas. Uberlândia, MG: Revista OuvirOUver, 2013.
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 11ª Ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2006.
JIMENEZ, Marc. O que é estética. São Leopoldo, RS: Ed. Unisinos, 1999.